Este livro é resultado de uma tese de doutorado defendida no Programa de PósGraduação em História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Unesp. Trata-se da segunda etapa de uma pesquisa que, iniciada em 2009, investiga a formação social em uma região periférica no século XIX (no caso, o Império brasileiro). A primeira parte da pesquisa, que resultou em um livro publicado em 2014,1 analisa a dinâmica temporal que constitui essa formação: investigando livros didáticos de história publicados no Império, meu objetivo era demonstrar como a narrativa histórica ensinada nas escolas imperiais situava o presente imperial como continuidade do tempo sagrado e de seus exemplos de virtude e moralidade. As narrativas, portanto, elaboravam uma gênese do presente assumindo como fundamento a educação de uma sociedade imperial. Esse argumento, que no primeiro livro ficou restrito a uma hermenêutica histórica muito tributária das teses de Paul Ricoeur, foi o ponto de partida da presente pesquisa. Se a formação do homem e do cidadão era fundamental para as elites letradas no período imperial (1822-1889), meu interesse reside em analisar a lógica que articula essa percepção, na medida em que a temática mobiliza um campo de valores e de prescrições (moralidade), fundamentando uma gramática moral para as interações da sociedade imperial, além de representar um horizonte de projeção e de construção da nação com a formação do futuro homem e cidadão – cujo núcleo, portanto, é pensado na imagem da infância.